As Nornes (Nornir) estão entre as forças mais poderosas da cosmovisão nórdica, senhoras dos destinos dos homens (menn). Elas eram as fiandeiras do destino que moldavam as vidas dos homens. Na Völuspá é dito que elas registravam seu julgamento em placas de madeiras (skáru á skíði, tiradas dos ramos da Yggdrasill?), enquanto no poema Helgakviða Hundisgsbani I é dito que eram em fios de ouro (gullin símu).
Eram três: Urd (Urðr), Verdandi (Verðandi) e Skuld. A última cavalgava entre as Valquírias (Valkyrjur) para escolher os mortos. Mas, segundo outra fonte, haviam muitas Nornes que pertenciam as raças dos Æsir, dos elfos (álfar) e dos anões (dvergar).
Porém, a origem das três maiores não é bem clara, embora elas sejam de origem gigante como podemos notar na Völuspá. Vale lembrar que todos os seres são aparentados por laços de sangue através de Ymir (Ýmir) e das dádivas dos trio criador (Óðinn, Vili e Vé), pois o corpo do gigante foi usado para a criação do universo de onde muitos deuses, homens, anões e outros seres surgiram. E esse parece ser o caso das três Nornes, porque na versão do poema da Völuspá do konungsbók, elas parecem surgir do mar ao lado da raiz de Yggdrasill ("þrjár ór þeim sæ/três saídas do mar"), então, podemos entender que elas "nasceram'' do sangue de Ymir assim que foi morto. A palavra "ór" em nórdico arcaico significa "saído de [algum lugar]" ou "de [origem]". Por isso, elas governam os destinos, porque elas surgiram do primeiro ser desmembrado que deu origem as famílias pelo sangue e poder do trio criador (há uma conexão profunda aqui). A versão do poema da Völuspá do Hausksbók sugere que elas viviam perto da árvore num salão ("þrjár ór þeim sal/três saídas do salão"). Entre as duas versões, a do Konungsbók faz mais sentido (que inclusive é mais antigo dos dois), pois é dito que elas vieram de Jotunheim ("unz þrjár kvámu þursa meyjar, ámáttkar mjök, ór Jötunheimum/até chegarem às três donzelas Þursar, muito poderosas, do Jotunheim"), então elas surgiram do sangue de Ymir transformado em mar que preenchia a região onde vivia os gigantes antes de serem exterminados pelo dilúvio, exceto Bergelmir e sua esposa. O poema Vafþrúðnismál parece confirmar essa ideia, pois é dito que as três filhas de Mogthrasir (Mögþrasir), que provavelmente é uma referência as Nornes aqui, viviam perto de rios e traziam a sorte para o mundo (Þrjár þjóðár falla þorp yfir meyja Mögþrasis; hamingjur einar þær er í heimi eru, þó þær með jötnum alask/Três grandes rios correm sobre a terra das donzelas de Mogthrasir; elas trazem a sorte para o mundo, embora elas fosse criadas pelos gigantes"). As filhas de Mogthrasir são três assim como as Nornes, todas elas viviam perto do mar, elas eram associadas as sortes dos indivíduos e relacionadas aos gigantes. A ideia de deusas surgidos do mar ou algum tipo de liquido divino tem paralela noutras religiões antigas: Afrodite, segundo Hesíodo, surgiu do sangue e sêmen de Urano que caiu no mar; Lakshmi, no hinduísmo, surgiu do oceano de leite quando os Asuras e Devas o agitaram. A ideia de mulheres associadas as águas, as fontes, a sorte, destino e fortuna também se encontra no folclore mundial. Mogthrasir significa "Aquele Que Luta Por Filhos" indicando a capacidade do gigante de gerar muitos filhos, uma característica de Ymir.
Conclusão: as Nornes nasceram do sangue primordial de Ymir quando o trio criador Odin, Vili e Ve o mataram e por isso elas governam o destino e o nascimento dos seres humanos. Porque a vida nasceu da morte e é para a morte que a vida retorna. Todos os seres humanos repetem o processo de Ymir: nascem, morrem, apodrecem, são devorados por larvas e os nutrientes do cadáver mantém a manutenção da vida, alimentando e dando continuidade a outras criaturas do ciclo da natureza.
FONTES:
Dictionary of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall
Edda, Anthony Faulkes
Gods and Myths of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson
The Poetic Edda, Caroylne Larrington
SITES CONSULTADOS:
https://web.archive.org/web/20090413124631/http://www3.hi.is/~eybjorn/ugm/vsp3.html
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