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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Thor era representado como personificação do céu?

 Thor (Þórr), o filho primogênito de Odin (Óðinn) e Jord (Jörð), é muito conhecido pelas pessoas por ser o deus da força e do raio. Fotos de Internet.

 Segundo o Gylfaginning de Snorri, o Thor nasceu forte e poderoso e por isso vencia todas as criaturas. Thor é explicitamente a personificação do poder e da força.

 Mas, quando analisamos as fontes antigas mais atentamente, nós podemos ver que o deus é a própria personificação do céu para os antigos escandinavos.

 E como cheguei nessa conclusão? Simples! Eu segui as metáforas nórdicas (kenningar). A barba ruiva de Thor foi associada as nuvens de tempestades por Hilda R. E. Davidson. Eu não discordo dessa grande autora e acadêmica, porém os sprites (duendes) vermelhos vistos durante as tormentas podem estar relacionadas também, pois lembram fios eriçados tal como nas descrições dos cabelos de Thor no Þrymskviða.

Thor em sua carruagem manejando o Mjöllnir.

Foto tirada de sprites, fonte da imagem: https://earthsky.org/earth/definition-what-are-lightning-sprites/. Note a semelhança disso com uma barba espessa e eriçada.   

 O poema Húsdrápa associou os olhos brilhantes de Thor (innmáni ennis ou "lua interior da sobrancelha") com a Lua (Máni). Thor também é conhecido por ter criado as constelações "Olhos de Thiazi (Þjaza Augu)" e "Dedão de Aurvandill (Aurvandilstá)". Na idade média, nas ilustrações, Thor era representado com 12 estrelas na cabeça. 

 No Þórsdrápa, compilado no Skáldskaparmál, quando Thor vai ao encontro de Geirrod (Geirröðr), as duas filhas do gigante levantaram a cadeira onde o deus se sentou tentando fazê-lo se chocar com o teto da residência, mas o filho de Odin conseguiu impedir a ação, a cabeça de Thor é referenciada como o Céu e seus olhos novamente associados a Lua (hám himni loga brátungls). O combate entre eles parece ser uma referência entre o poder celeste e o poder ctônico.

 O duelo entre Thor e Hrungnir também parece indicar um "embate celestial". Thor seria a representação do céu e do raio que esmigalha as altas montanhas representados por Hrungnir e seu aliado Mökkurkálfi. Thjalfi (Þjálfi) seria o vento. A ideia de lascas de pedra na cabeça de Thor parece indicar que era como os meteoritos eram entendidos pelos escandinavos. Eles caiam do céu e ardiam, e o povo talvez acreditassem que havia ocorrido uma batalha entre Thor e os gigantes. O martelo era a representação do relâmpago que saia das nuvens. Raios também saiam dos olhos do deus.

 É comum na poesia dos escaldos ver partes do corpo humano e divino ser relacionados com a natureza, porém isso é muito importante porque liga esse entendimento a cosmovisão pagã, a natureza e a maioria dos deuses foram feitos das partes do cadáver de Ymir pelo trio divino criador. Então, é natural entender dessa forma, fazer essa associação através de metáforas. Vale lembrar que o cérebro de Ymir foi transformado em nuvens e o seu crânio no céu pelos deuses, mas isso não desqualifica a associação de Thor com esses elementos. Thor é o regente deles.

 Então, com esses exemplos metafóricos, podemos entender que Thor era visto como a personificação da abóbada celeste, seus cabelos eram as nuvens avermelhadas de tempestades (ou sprites), sua cabeça o céu e seus olhos a Lua. Essa imagem simbólica parece ser melhor compreendida quando enxergamos Thor como protetor dos deuses e homens e ele seria a "barreira" contra os gigantes que vivem do lado de fora. Vale lembrar que na cosmovisão nórdica, haviam 9 céus uns por cima dos outros (os céus dos 9 mundos). Thor (o ar, atmosfera) era filho de Odin (Céu primordial) e de Jord (a Terra). Com o nascimento de Thor, Odin foi distanciado de Jord, e assim o filho herdou os domínios do pai. As viagens constantes de Thor para o leste (para destruir Trolls) e para o oeste (retorno para o seu lar) lembra o movimento do Sol pelo céu. Algumas fontes indicam que Asgard (Ásgarðr) ficava no oeste.

 Odin, Thor e Týr (Týr) são a trindade celeste, o primeiro representa o céu noturno/primordial, o segundo representa o céu tempestuoso e o terceiro representa o céu luminoso, diurno.

 O Zeus dos gregos era visto de forma parecida na antiguidade, nos hinos órficos, Zeus era o céu. O Sol (Hélios) era chamado de "Olho de Zeus". Thor foi identificado com o romano Júpiter, o equivalente do Zeus, em alguns manuscritos antigos. A quinta feira é a prova disso, pois é o dia sagrado desses três deuses.


FONTES:

As Similaridades Entre Þórr, Perkunas, Zeus, Júpiter, Indra e Héracles, Marcio Alessandro Moreira

Edda, Anthony Faulkes

Myths and Symbols in Pagan Europe Early Scandinavian and Celtic Religions, Hilda Roderick Ellis Davidson

Scandinavian Mythology, Hilda R. E. Davidson 

Teutonic Mythology Vol. 1, Jacob Grimm

The Poetic Edda, Carolyne Larrington 

SITES CONSULTADOS:

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

quinta-feira, 6 de julho de 2023

As origens de Frigg

 Frigg é a rainha dos deuses, esposa de Odin (Óðinn) e mãe de Balder, mas pouco sobre ela é conhecido em comparação a Freyja, divindade ao qual é confundida pelas similaridades.

Frigg enviando Gná numa missão, sendo atendida por Fulla e outras deusas. Arte tirada do livro Asgard and the Gods: the Tales and Traditions of Our Northern Ancestors de 1902.

 Segundo Snorri na sua Edda em Prosa, Frigg é filha de Fjorgynn (dóttur Fjörgyns), algo confirmado no poema Lokasenna (Fjörgyns mær). Fjorgynn é praticamente desconhecido, e parece ser apenas um nome. Mas, essa denominação é a forma masculina da Terra (Jörð), Fjorgyn (Fjörgyn). Então, talvez, temos um par de divindades aqui: Fjorgynn e Fjorgyn, tal como Freyr e Freyja, Njord (Njörðr) e Nerthus, Phol e Volla, Ullr e Ullin. Fjörgynn é relatado etimologicamente ao protoindo-europeu *Perkwunos, e desse modo cognato ao eslavo Perun, ao lituano Perkunas e talvez com o védico Parjanya (que é identificado com Indra), que são divindades ligadas a chuvas e tempestades (Fjorgyn/Jord é a mãe de Thor (Þórr) que reforça esse laço entre eles).  

 A Terra (Jörð) foi feita da carne de Ymir (Ýmir) pelo trio criador, e este gigante primordial tinha habilidade de gerar filhos por autogênese, cujo o significado do nome ("gêmeo" ou "duplo") parece indicar sua energia dupla masculina e feminina num único ser. Então, é muito possível que a Terra tenha herdado essa habilidade. No Hinduísmo o conceito de masculino e feminino na divindade é conhecido. Shiva é considerado o aspecto masculino criador enquanto Shakti o aspecto feminino criador e ambos são um par, um casal, emanações de Brahman (não confundir com Brahma da Trimurti). Mas, infelizmente pouco sobre Tyr, Jord e Frigg chegou até nós.

 Numa das versões do poema rúnico islandês, Frigg é filha de Tyr (Týr er einhendr áss ok úlfs leifr ok Friggjar faðir). Se aceitarmos que a Terra é feminina e masculina, então, Frigg foi gerada da união da Terra e de Tyr. A Geia/Gaia e a Hera (dependendo da versão) dos gregos podiam gerar filhos por autogênese também. Vale lembrar que Frigg tem poder sobre a natureza (explícito na saga da morte de Balder), o que nos leva a crer que ela herdou de Jord, a mãe-terra. Se Frigg realmente for filha de Fjorgyn, então, ela é meia-irmã de Thor, curiosamente a mãe de Balder e o filho de Odin eram adorados como um par na Fljótsdæla Saga, a lado de Freyr e Freyja (que também são irmãos e formava outro par no templo nesta saga).

 Frigg é apontada como mãe dos deuses no prólogo da Edda em Prosa, Gylfaginning (Kona hans hét Frigg Fjörgvinsdóttir, ok af þeira ætt er sú kynslóð komin) e no poema Sonatorrek (Friggjar niðja), mas apenas Balder aparece como seu filho nas antigas fontes. Os filhos de Odin no prólogo da Edda em Prosa: Vegdeg, Beldeg/Balder, Sigi, e Skjöldr parecem serem filhos de Frigg, porque Balder aparece entre eles e o descendente de Sigi, Rerir, foi ajudado pela deusa na Völsunga Saga. Agnarr, o filho de Hrauðungr, era filho adotivo de Frigg segundo o Grímnismál. O que dificulta o esclarecimento, é que esses filhos de Odin eram reis considerados lendários e estão no prólogo que é considerado adição tardia na Edda de Snorri, contudo, essas narrativas podem ter algum eco pagão que foram passados oralmente. Isso faria Frigg não apenas a rainha dos deuses, mas a deusa que gera reis também e ela é a contraparte perfeita para Odin. 


FONTES:

A Genealogia dos Deuses Nórdicos, Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði)

Edda, Anthony Faulkes

The Icelandic Rune-Poem, R. I. Page

The Poetic Edda, Carolyne Larrington

SITES CONSULTADOS:

http://www.vsnrweb-publications.org.uk/Fljotsdale%20Saga.pdf

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

http://www.heimskringla.no/wiki/Sonatorrek_(B1)

https://heimskringla.no/wiki/V%C3%B6lsunga_saga

sexta-feira, 26 de maio de 2023

As origens de Tyr

 Tyr (Týr), o poderoso deus da guerra, da vitória, da coragem e da lealdade, foi muito venerado na antiguidade pelos povos germânicos e eles lhe honraram a terça-feira (dedicado ao planeta Marte que é seu correspondente latino). Tyr possui duas versões de origens nos relatos nórdicos: numa ele é filho de Hymir e sua esposa, e noutra ele é filho de Odin (Óðinn), embora muito pouco sobre o deus sobreviveu até nós.

Tyr tendo a mão amputada por Fenrir, manuscrito islandês de 1760.

 No poema Lokasenna, o Loki afirmou que Tyr tinha uma esposa e um filho que não são nomeados, que são um total mistério.

 Na Edda Poética, Tyr é identificado como filho do gigante Hymir e sua esposa, a avô do deus tinha 900 cabeças (hafði höfða hundruð níu). Assim, Tyr é descendente de gigantes (áttnið jötnar). Esses gigantes viviam perto do mar e em cavernas. A mãe de Tyr é descrita como enfeitada em ouro e de sobrancelhas alvas (algullin fram brúnhvít). A mãe de Tyr, no poema, é denominada "Frilla", que significa "Senhora", "Amante" ou "Amiga", e pode muito bem ser o nome próprio dela. Hymir é um gigante que vive no fim do céu (Hymir at himins enda) no leste de Élivágar (Býr fyr austan Élivága). O nome de Hymir pode significar "Aquele Que Esgueira Na Escuridão" (de hýma) ou "Crepúsculo" (de húm), indicando uma divindade provavelmente noturna, porque sua esposa Frilla pode representar a luz do amanhecer já que é vestida em ouro e de claras sobrancelhas. Tyr significa "Deus", mas seu nome está ligado ao protoindo-europeu *dyeus que significa "Luz Celestial/Brilho Diurno" (e relatado etimologicamente à Zeus dos gregos, Dyaus dos hindus, Júpiter dos romanos). Desse modo, o Crepúsculo (Hymir) se unindo ao amanhecer (Frilla), gerou a luz do céu (Týr). Uma genealogia muito interessante.

 Na Edda em Prosa, Tyr é identificado como filho de Odin (sons Óðins), mas não dá nenhum detalhe além dessa afirmação. A maioria dos sites de mitologia da internet afirmam que Frigg é mãe de Tyr, mas isso não se encontra nas fontes antigas, pelo contrário: existe uma fonte tardia que conta que Frigg é filha de Tyr (Friggjar faðir). Muitos acreditam que Frigg é a mãe dos Æsir se apoiando no fato mencionado no Gylfaginning da Edda em Prosa (Kona hans hét Frigg Fjörgvinsdóttir, ok af þeira ætt er sú kynslóð komin) e no poema Sonatorrek (Friggjar niðja), mas nas fontes antigas apenas Balder aparece de forma clara como seu filho (isso ficará para o post sobre Frigg).

 Então, como no caso de Jord (Jörð) visto no post anterior, Tyr (o Céu ou Luz Celeste) pode ter surgido assim que Odin estava edificando a criação, nascendo no momento do encontro da noite (Hymir) com o amanhecer do dia (Frilla) e por isso surgiu essa dupla genealogia. Isso casaria as duas versões. Talvez, as 900 cabeças da avó de Tyr possa representar as posições das estrelas no céu. Vale lembrar que o "nascimento" dos deuses não é igual ao dos humanos, as vezes, eles surgem adultos e plenos porque o universo necessita deles. Também deve ter dito que os mitos possuem versões que as vezes são conflitantes e contraditórios. 


FONTES:

A Genealogia dos Deuses Nórdicos, Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði)

Edda, Anthony Faulkes

Egils Saga, Bjarni Einarsson

The Icelandic Rune-Poem, R. I. Page

The Poetic Edda, Carolyne Larrington 

SITES CONSULTADOS:

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

http://www.heimskringla.no/wiki/Sonatorrek_(B1)

quinta-feira, 23 de março de 2023

Os nomes dos planetas e astros na língua Nórdica

 Pouco se sabe sobre a astronomia germânica, porque como já falei antes, os povos germânicos passavam quase todos os seus conhecimentos oralmente. Mas, existe alguma coisa aqui e ali, que é um verdadeiro quebra-cabeças.

Deuses dos planetas e da semana: Tyr (Marte), Odin (Mercúrio), Thor (Júpiter), Frey (Saturno), Freyja e/ou Frigg (Vênus). Arte tirada da internet.

 Como vimos no post anterior, os povos germânicos transliteraram os nomes dos dias da semana quando adotaram a semana romana de 7 dias. Porém, irei focar nos escandinavos para o post não ficar muito longo. O domingo foi chamado, então, pelos escandinavos de "dia do Sol" ou Sunnudagr (Søndag em dinamarquês e norueguês, Söndag em sueco). A segunda-feira era o "dia da Lua" ou Mánadagr (Mandag em dinamarquês e norueguês, Måndag no sueco). A terça-feira era o "dia de Tyr" ou Týsdagr (Tirsdag no dinamarquês e norueguês, Tisdag no sueco). A quarta-feira era o "dia de Odin" ou Óðinsdagr (Onsdag em dinamarquês, norueguês e sueco). A quinta-feira era o "dia de Thor" ou Þórsdagr (Torsdag em dinamarquês, norueguês e sueco). A sexta-feira era o "dia de Freyja" ou Frjádagr (Fredag em dinamarquês, norueguês e sueco). O sábado era o "dia do banho" ou Laugardagr (Lørdag em dinamarquês e norueguês, Lördag em sueco). Os 7 dias da semana eram um reflexo dos 5 planetas visíveis a olho nu juntamente com o Sol e Lua. É claro que em cada país nórdico o dialeto mudou um pouco, mas o significado é o mesmo. Porém, a semana islandesa originalmente não começava no domingo, e sim sempre na quinta-feira no verão e sempre na sexta-feira e/ou sábado no inverno. Isso porque as estações eram divididas em duas partes de 6 meses: verão e inverno (a data do começo do inverno na sexta-feira e sábado existe contradições).

 Contudo, os 5 planetas, e a Lua tinham outras denominações, mas que eram uma referência aos deuses nórdicos. Isso foi registrado no manuscrito islandês Rím I do século 12 d.C. por sacerdotes cristãos (essa obra era uma compilação da contagem de tempo, calendário, sinais do zodíaco, que eram usados pela igreja pra determinar a data de suas celebrações). Vale lembrar que esses nomes podem ou não ser pré-cristãos, porque na Islândia os nomes dos deuses nórdicos na semana foram substituídos depois da cristianização e o mesmo pode ter ocorrido com o nome dos planetas. Na Clemens Saga que é datado entre o século 12 ou 13 d.C. podemos ler algo curioso: o planeta Vênus é chamado de Friggjar Stjarna ("Estrela de Frigg"). Voltando ao manuscrito Rím I, a Lua era chamada de Tungl ("Lua"), Marte era chamado Þrekstjarna ("Estrela da Coragem"), Mercúrio era Málsstjarna ("Estrela do Discurso"), Júpiter era Meginstjarna ("Estrela do Poder"), Vênus era Blóðstjarna ("Estrela de Sangue"), e Saturno era Gnógleiksstjarna ("Estrela da Abundância"). O Sol permaneceu com sua denominação comum: Sól ("Sol"). As características dos nomes planetários neste manuscrito islandês batem com os deuses Máni (deus da Lua, pois na Edda Em Prosa "Tungl" aparece como epiteto da Lua), Tyr (deus da coragem), Odin (deus da sabedoria e da escrita/palavra), Thor (deus do poder, pois ele é descrito como dotado de força e poder na Edda em Prosa e, por isso, ele vence todas as criaturas vivas, sua residência Þrúðheimr significa "Mundo do Poder"), Freyja (ou Frigg, deusa das mulheres, do fluxo menstrual, ambas deusas eram associadas ao parto na Edda Poética) e Njord (ou Freyr, deus da abundância). 

 Vênus era associada principalmente com Freyja na Escandinávia, mas ocasionalmente com Frigg também. Isso se deve por causa da confusão entre as duas deusas que possuem diversas similaridades. O nome do planeta Saturno: Gnógleiksstjarna ou "Estrela da Abundância" somado ao sábado que era o "dia do banho" e relacionado ao mesmo planeta parece confirmar sua conexão com Njord (ou Freyr). Njord era o deus dos mares e da abundância, e seu filho Freyr era associado ao mar, pois ele era dono do navio Skíðblaðnir e ele é o deus da abundância também.

 Seguindo a lógica da Clemens Saga é possível que os outros planetas eram assim denominados na era pré-cristã: Týs Stjarna ("Estrela de Tyr", Marte), Óðins Stjarna ("Estrela de Odin", Mercúrio), Þórs Stjarna ("Estrela de Thor", Júpiter), e Njarðar Stjarna ("Estrela de Njord", Saturno) ou Freys Stjarna ("Estrela de Freyr", Saturno). Infelizmente, apenas a "Estrela de Frigg" é mencionado nesta saga, embora incerto, provavelmente era desse jeito que os outros corpos celestes deveriam ser chamados no passado. Corroborando assim com os dias da semana escandinavo que contém o nome dos deuses correspondente aos 5 planetas, Sol e Lua. Porém, a Clemens Saga é uma tradução islandesa do latim da vida de São Clemente I (Papa Clemente I que também é conhecido como Clemente Romano). Desse modo, o nome do planeta Friggjar Stjarna (Vênus) pode apenas ser uma tradução do latim para o islandês, mas a evidência do fato dos dias da semana conter nomes de deuses, então, é muito possível que seja verdadeiro. O Templo de Júpiter era traduzido como Þórshof ('Templo de Thor") nos manuscritos islandeses, e na Escandinávia existem locais com essa denominação, corroborando a ideia, lugares onde o deus do trovão era realmente venerado. Nomes transliterados mantém algum fundo de verdade por assim dizer. 


FONTES:

Dictionary of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall

Invocando os Deuses Nórdicos: dos tempos primitivos aos tempos modernos, Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði)

Gods and Myths of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson

Myth and Religion of the North: The Religion of Ancient Scandinavia, E. O. G. Turville-Petre  

The Icelandic Calendar, Svante Janson

SITES CONSULTADOS:

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar 

http://www.septentrionalia.net/etexts/

https://time-meddler.co.uk/the-old-icelandic-calendar/

domingo, 19 de março de 2023

Folclore Islandês - Dias da Semana

 Os povos germânicos adaptaram e adotaram a semana romana de 7 dias ao redor do 4 século d.C., mas traduziram o nomes das divindades estrangeiras pelas nativas. A tradução foi com base nos poderes e/ou símbolos comum a ambos panteões. Os romanos por sua vez adaptaram dos gregos, os gregos dos babilônicos e os babilônicos dos sumérios.

Caçada Selvagem dos deuses (Åsgårdsreien), arte de Peter Nicolai Arbo de 1868.

 A escolha de 7 dias da semana é referente aos 5 planetas visíveis a olho nu (Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno) juntamente com o Sol e Lua (5 + 2 = 7. Na antiguidade os planetas eram reverenciados e cercados de misticismo e folclore. Na Escandinávia o domingo era chamado de o dia do Sol (Sunnudagr), a segunda-feira era o dia da Lua (Mánadagr), a terça-feira era o dia de Tyr (Týsdagr), a quarta-feira era dia de Odin (Óðinsdagr), a quinta-feira era dia de Thor (Þórsdagr), a sexta-feira era dia de Freyja ou Frigg (Frjádagr) e sábado era o dia do banho (Laugardagr).

 Os germânicos substituíram os deuses greco-romanos da semana: o deus Hélios ou Sol (domingo), senhor do astro Solar, pela deusa Sunna ou Sól; Selene ou Luna (segunda-feira), a deusa da Lua, por Máni, o deus da Lua; Ares ou Marte (terça-feira), o deus da guerra e do furor guerreiro, por Ziu/Tiw/Týr; Hermes ou Mercúrio (quarta-feira), deus das artes, magia, intelecto, sabedoria, por Wodan/Woden/Óðinn; Zeus ou Júpiter (quinta-feira), senhor do clima, das tempestades e do raio, por Þonar/Þunor/Þorr; Afrodite ou Vênus (sexta-feira), deusa do amor, beleza e fertilidade, por Freyja (ou Frigg); e Saturno (sábado) ficou sem um correspondente claro, mas foi associado a água ("dia do banho"). Os deuses Njord (Njörðr) e Freyr são identificados com Saturno em manuscritos antigos, pois eles eram deuses da abundância, colheita e ligado ao plantio. Há outras semelhanças: Njord era o chefe do Vanir e foi enviado aos Æsir e Saturno foi expulso do cargo de rei dos deuses e enviado ao Campo dos Afortunados ou no Lácio (dependendo da fonte). Saturno tinha uma foice e Freyr uma espada. Njord era associado as águas, pois vivia perto do mar, sua contraparte germânica, Nerthus, também tinha conexão com a água. É muito possível que o sábado era ligado ao Vanir, que conhecem o futuro, que é o dia que representa a sorte. Assim, temos três Æsir nos dias da semana: Tyr, Odin e Thor; dois Vanir: Freyja e Njord (ou Freyr); e dois seres divinos: Sunna e Máni. A raça de Sunna e Máni são é clara, eles são chamados de filhos de Mundilfari que é referido como um homem (maðr), mas pode ser apenas pra indicar o sexo biológico dele (o mesmo acontece com deuses e gigantes). Contudo, vale lembrar que o Sol e Lua foram criados das fagulhas de Muspellsheim (Múspellsheimr) pelo trio criador, os filhos de Bor (Borr), e que os irmãos Sunna e Máni foram colocados no céu para conduzir esses astros, ou seja, os astros já estavam criados e seus condutores foram colocados depois. É possível que eles sejam elfos, porque a Sól é chamada de "Glória dos Elfos" (Álfröðull). A sexta-feira é relacionado a Freyja na Escandinávia e a Frigg no território inglês.

 O folclore da Islândia coletado em 1866 contava que:

"É dito que quem nasceu domingo, nasceu para vencer! 

 "Numa segunda-feira, para incomodar;

Numa terça-feira, para prosperar;

Numa quarta-feira, para moldar;

Numa quinta-feira, para a glória;

Numa sexta-feira, para a riqueza;

Num sábado, para a sorte." 

Tradução minha. 

 Com base no folclore, é possível que isso venha de longa data, práticas antigas, mesmo quando uma religião é extinta, permanece no imaginário popular. O Sol representa a vitória porque a luz ilumina a escuridão e afasta as trevas que é os obstáculos (a deusa Sól tem esse papel, pois ela transforma Trolls em pedra com sua luz). A Lua muda de fases e simboliza a incerteza, confusão, inconstância e por isso incomoda e causa problemas (o deus Máni é associado aos eclipses, fim de ciclo, mudanças e antigamente a loucura era associado ao corpo celeste). A terça-feira representa a coragem e persistência para superar desafios e assim prosperar por sua determinação (Tyr representa exatamente isso na antiga fé). A quarta-feira simboliza o intelecto para realizar, modelar e moldar os objetivos (Odin é o moldador de destinos, reis, heróis, ele é o senhor das artes). A quinta-feira representa a força para superar obstáculos e com isso ter a glória desejada (Thor é o maior guerreiro de Asgard (Ásgarðr), é o maior dos heróis, e o mais famoso dos deuses e heróis). A sexta-feira simboliza a prosperidade, abundância e riqueza (Freyja é a deusa que possui tesouros e é filha do deus da abundância e riqueza: Njord). O sábado representa o destino e a sorte, mas é como um presente: pode ser benigno como maligno. 


FONTES:

As Casas dos Deuses no Grímnismál e o Zodíaco, Marcio A. Moreira

Dictionary of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall

Icelandic Legends, collected by Jón Arnason trad. de George E. J. Powell & Eiríkr Magnússon

Invocando os Deuses Nórdicos dos Tempos Primitivos aos Tempos Modernos, Marcio A. Moreira

Scandinavian Mythology, Hilda R.E. Davidson

Thor era representado como personificação do céu?

 Thor ( Þórr ), o filho primogênito de Odin ( Óðinn ) e Jord ( Jörð ), é muito conhecido pelas pessoas por ser o deus da força e do raio. Fo...

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