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sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

As origens de Vidar, Forseti e Bragi

 Esses três deuses: Vidar (Víðarr), Forseti e Bragi, estão entre os grandes deuses Æsir, eles fazem parte do tribunal divino. Existem alguns poucos topônimos (nome de lugar derivado do deus) que parece carregar o nome de Vidar e Forseti, embora são muito contestados.

Vidar e Vali, arte de Axel Kulle.

 Vidar é mencionado como um deus calado que espera pelo Ragnarök montado em seu cavalo, pronto para vingar o pai com seu sapato especial. Muito pouco se sabe sobre ele, exceto que ele era muito forte, e que ele ajudava os deuses em momentos de necessidade, provavelmente quando Thor estava fora matando Trolls. Vidar é filho de Odin (Óðinn) e da amigável giganta Grid (Gríðr). Grid era amiga de Thor (Þórr) e, em certa ocasião, ela ajudou Thor dando-lhe luvas de ferro, o cinto da força e um cajado mágico (Grid parece ser fonte destes itens preciosos de Thor, e isso parece comprovar que o deus não necessita deles para erguer o martelo já que ele os recebeu depois de seu malho, há uma contradição na citação de Snorri). Grid parece estar associada a mágica ou ritos xamânicos, pois o cajado era instrumento das Völur ("profetisas"). Grid parece habitar em Jotunheim (Jötunheimr), perto de Geirrod (Geirröðr).

 Forseti é descrito como sábio e apaziguador, e vivia trazendo a paz. Forseti era filho de Balder e de Nanna, portanto, neto de Odin. Praticamente nada sobre ele chegou até nós, exceto que ele vivia em Glitnir.

 Bragi é um caso ainda mais difícil porque praticamente nada sobre ele chegou até nós, exceto que ele era filho de Odin, esposo de Idunn (Iðunn), poeta dos deuses e que ele dava as boas vindas aos heróis do Valhall (Valhöll). Sua mãe não é mencionada nas fontes que temos. Muitos especulam que Bragi pode ser um herói divinizado, o que era comum segundo o que aparece na Vita Anskarii (heróis renomados do povo podiam ser eleito um deus se os deuses permitissem). É possível que originalmente ele seja Bragi Boddason ou Bragi o filho de Halfdan ou Bragi o filho de Högni endeusado pelo povo, mas também é incerto. Muitos acreditam que a mãe de Bragi seria Gunnlod (Gunnlöð), mas isso também é incerto, pelo motivo de Odin ter levado o mel da poesia dos gigantes e teria talvez engravidado a giganta (mas, isso não é citado nas fontes, é apenas especulação das pessoas).


FONTES:

A Genealogia dos Deuses Nórdicos, Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði)

Dictionary Of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall

Edda, Anthony Faulkes

Gods And Myths Of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson

Saxo Grammaticus Gesta Danorum: The History of the Danes Volume I, trad. Peter Fisher

Scandinavian Mythology, Hilda R. E. Davidson

The Poetic Edda, Carolyne Larrington

SITES CONSULTADOS:

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

http://heimskringla.no/wiki/Ynglinga_saga

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

As origens de Balder, Hod e Vali

 Balder (Baldr), Hod (Höðr) e Vali (Váli) estão entre os grandes deuses apresentados por Snorri na Edda em Prosa (a fonte mais conhecida), eles são citados também no nafnaþulur. Suas origens são diferentes nas variadas fontes. Algumas vezes são confusas e contraditórias. Os três retornarão depois do Ragnarok (Ragnarök) reconciliados. Balder é o mais famoso e conhecido dos três.

Balder por Bengt Erland Fogelberg de 1844, foto de internet.

VERSÃO ISLANDESA (DAS EDDAS E DE SNORRI)

 Balder, filho de Odin (Óðinn) e Frigg, era muito belo, radiante (Hann er svá fagr álitum ok bjartr) e jovem quando morreu por causa da artimanha de Loki. Frigg o descreveu como corajoso e guerreiro quando Loki insultou a deusa no salão de Ægir. Balder é associado aos guerreiros em metáforas (kenningar) da poesia escandinava. Curiosamente, o significado do nome "Balder" é incerto, mas acredita-se que possa significar "Senhor", "Príncipe" ou "Bravo", o que é um título apropriado para um filho de Odin. Inclusive Balder aparece como um rei mortal no prólogo da Edda em Prosa (lembrando que o prólogo é considerado adição tardia na obra de Snorri). A variação de seu nome, "Beldeg/Bældæg", parece indicar conexão solar e/ou luz (BælBál significa "fogo", e dæg ou dag significa "dia", do inglês arcaico e nórdico arcaico respectivamente) e na genealogia dos reis saxões, ele aparece como um rei descendente de Woden (Odin). E faz sentido, pois a palavra lituana báltas ("brilhante" ou "branco") possui certas características e etimologia possível em relação a Balder. Nas Eddas (Eddur), Balder é descrito como sábio, gentil, justo e invulnerável, depois que sua mãe conseguiu fazer toda natureza proteger seu filho, deixando apenas o visgo de fora, o que causou-lhe a morte). O que a maioria das pessoas não percebe na narrativa, é que o visgo usado por Loki pra matar Balder via Hod foi colido perto do palácio de Odin (Vex viðarteinungr einn fyrir vestan Valhöll. Sá er mistilteinn kallaðr). Nas Eddas, Vali nasceu para vingar Balder e matar Hod, os três eram meios-irmãos. Vali  nasceu de Rind (Rindr) e de Odin, depois de uma profecia revelada. Vali é um exímio arqueiro. Rind foi enfeitiçada para gerar Vali, que com uma noite de vida, sem lavar as mãos e se pentear, correu para fazer o seu proposito e levar Hod a pira  funerária. Hod é citado como filho de Odin no Skáldskaparmál, mas sua mãe não é nomeada, ele é cego e forte.


VERSÃO DINAMARQUESA DE SAXO GRAMMATICUS

 Na versão dinamarquesa Balder é apresentado como um poço de luxuria, avido de desejo por Nanna, ele também aparece como filho de Odin. Ele é um semideus, ele era auxiliado pelos deuses, tinha o corpo impenetrável ao aço devido a um alimento especial. Nesta versão, as ninfas das florestas (silvestrium virginum) que provavelmente são Nornas (Nornir) dão as armas mágicas e conselhos necessários para Hod vencer e matar Balder. Saxo descreveu os deuses de forma evemerizada (teoria de que os deuses eram mortais divinizados), embora Balder é descrito como sendo de semente celestial (arcano superum semine procreatum). Hod aparece como filho do rei mortal Hothbrodd, e não de Odin. Ele não é cego, e era um grande guerreiro. Vali é chamado de Boe e era filho de Odin e Rinda. Odin usou magia também para conseguir domar Rinda e ter esse filho com ela. Boe cresceu e matou Hod, mas também morreu depois de um dia devido as feridas de batalha. A versão dinamarquesa de Saxo não é levada muito a sério porque quando é confrontada com a versão de Snorri, a do islandês se prova mais "correta". É possível que esta fosse outra versão da história (o que é comum nas mitologias ter mais de uma adaptação), mas como Saxo costumava desprezar as divindades pagãs e ridicularizar o que ele registrou por ser um homem da igreja, isso fala contra ele. Mesmo Snorri sendo cristão, dele evemerizar as divindades, sua coletânea cita fontes e algumas comprovadas pela arqueologia.

 Com isso temos pontos comuns nas duas narrativas: Balder é invulnerável, guerreiro, filho de Odin, morreu nas mãos de Hod, Hod foi ajudado por seres divinos para matar Balder (Loki, Nornas?), Balder foi vingado por um irmão Váli/Boe. Mas, também diferenças: Hod ser ou não cego, ser ou não ser filho de Odin.

VERSÃO ANGLO-SAXÔNICA

 No poema Beowulf, há uma narrativa similar onde Herebeald e Haethcyn que eram irmãos e filhos de Hrethel (dos Geats) que terminou em tragédia. Haethcyn matou Herebeald com uma flechada acidentalmente. Seu pai lamentou a morte do filho se sentindo incapaz de se vingar. Ele comparou a perda do filho a alguém que morreu enforcado em árvores tal como nos ritos em honra de Odin. É possível que seja outra versão da história, afinal os Geats eram relacionado à Odin. Herebeald é próximo de Balder e Haethcyn de Hod.


FONTES:

A Genealogia dos Deuses Nórdicos, Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði)

Dictionary Of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall

Edda, Anthony Faulkes

Gods And Myths Of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson

Saxo Grammaticus Gesta Danorum: The History of the Danes Volume I, trad. Peter Fisher

The Poetic Edda, Carolyne Larrington

SITES CONSULTADOS:

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

quinta-feira, 6 de julho de 2023

As origens de Frigg

 Frigg é a rainha dos deuses, esposa de Odin (Óðinn) e mãe de Balder, mas pouco sobre ela é conhecido em comparação a Freyja, divindade ao qual é confundida pelas similaridades.

Frigg enviando Gná numa missão, sendo atendida por Fulla e outras deusas. Arte tirada do livro Asgard and the Gods: the Tales and Traditions of Our Northern Ancestors de 1902.

 Segundo Snorri na sua Edda em Prosa, Frigg é filha de Fjorgynn (dóttur Fjörgyns), algo confirmado no poema Lokasenna (Fjörgyns mær). Fjorgynn é praticamente desconhecido, e parece ser apenas um nome. Mas, essa denominação é a forma masculina da Terra (Jörð), Fjorgyn (Fjörgyn). Então, talvez, temos um par de divindades aqui: Fjorgynn e Fjorgyn, tal como Freyr e Freyja, Njord (Njörðr) e Nerthus, Phol e Volla, Ullr e Ullin. Fjörgynn é relatado etimologicamente ao protoindo-europeu *Perkwunos, e desse modo cognato ao eslavo Perun, ao lituano Perkunas e talvez com o védico Parjanya (que é identificado com Indra), que são divindades ligadas a chuvas e tempestades (Fjorgyn/Jord é a mãe de Thor (Þórr) que reforça esse laço entre eles).  

 A Terra (Jörð) foi feita da carne de Ymir (Ýmir) pelo trio criador, e este gigante primordial tinha habilidade de gerar filhos por autogênese, cujo o significado do nome ("gêmeo" ou "duplo") parece indicar sua energia dupla masculina e feminina num único ser. Então, é muito possível que a Terra tenha herdado essa habilidade. No Hinduísmo o conceito de masculino e feminino na divindade é conhecido. Shiva é considerado o aspecto masculino criador enquanto Shakti o aspecto feminino criador e ambos são um par, um casal, emanações de Brahman (não confundir com Brahma da Trimurti). Mas, infelizmente pouco sobre Tyr, Jord e Frigg chegou até nós.

 Numa das versões do poema rúnico islandês, Frigg é filha de Tyr (Týr er einhendr áss ok úlfs leifr ok Friggjar faðir). Se aceitarmos que a Terra é feminina e masculina, então, Frigg foi gerada da união da Terra e de Tyr. A Geia/Gaia e a Hera (dependendo da versão) dos gregos podiam gerar filhos por autogênese também. Vale lembrar que Frigg tem poder sobre a natureza (explícito na saga da morte de Balder), o que nos leva a crer que ela herdou de Jord, a mãe-terra. Se Frigg realmente for filha de Fjorgyn, então, ela é meia-irmã de Thor, curiosamente a mãe de Balder e o filho de Odin eram adorados como um par na Fljótsdæla Saga, a lado de Freyr e Freyja (que também são irmãos e formava outro par no templo nesta saga).

 Frigg é apontada como mãe dos deuses no prólogo da Edda em Prosa, Gylfaginning (Kona hans hét Frigg Fjörgvinsdóttir, ok af þeira ætt er sú kynslóð komin) e no poema Sonatorrek (Friggjar niðja), mas apenas Balder aparece como seu filho nas antigas fontes. Os filhos de Odin no prólogo da Edda em Prosa: Vegdeg, Beldeg/Balder, Sigi, e Skjöldr parecem serem filhos de Frigg, porque Balder aparece entre eles e o descendente de Sigi, Rerir, foi ajudado pela deusa na Völsunga Saga. Agnarr, o filho de Hrauðungr, era filho adotivo de Frigg segundo o Grímnismál. O que dificulta o esclarecimento, é que esses filhos de Odin eram reis considerados lendários e estão no prólogo que é considerado adição tardia na Edda de Snorri, contudo, essas narrativas podem ter algum eco pagão que foram passados oralmente. Isso faria Frigg não apenas a rainha dos deuses, mas a deusa que gera reis também e ela é a contraparte perfeita para Odin. 


FONTES:

A Genealogia dos Deuses Nórdicos, Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði)

Edda, Anthony Faulkes

The Icelandic Rune-Poem, R. I. Page

The Poetic Edda, Carolyne Larrington

SITES CONSULTADOS:

http://www.vsnrweb-publications.org.uk/Fljotsdale%20Saga.pdf

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

http://www.heimskringla.no/wiki/Sonatorrek_(B1)

https://heimskringla.no/wiki/V%C3%B6lsunga_saga

terça-feira, 4 de abril de 2023

O dilúvio nórdico

 Relatos sobre um dilúvio universal devastador ocorre em praticamente todas as civilizações antigas: Mesopotâmia, Grécia, Índia, Hebreus, etc... A lista de povos é enorme, mas ficarei por aqui pra não sair do foco.

A morte de Ymir (Ýmir) nas mãos dos filhos de Borr, arte de Lorenz Frølich.

 A narrativa do dilúvio nórdico citado brevemente nas duas Eddas (Eddur) é diferente dos demais povos em alguns pontos, o que torna tudo ainda mais interessante, veja:

  • O evento ocorreu antes da criação de Midgard (Miðgarðr, o planeta Terra), enquanto noutras civilizações o cataclismo ocorreu na Terra já formada.
  • O transporte usado pelos sobreviventes no dilúvio nórdico é incerto, enquanto noutras civilizações na maioria das vezes é um barco (mas, também existem variações).
  • Apenas Bergelmir e sua esposa estavam a bordo do objeto que os salvou do dilúvio, pois não existiam animais e homens ainda, enquanto noutras narrativas pelo mundo a maioria das vezes é citado animais e filhos do casal sobrevivente, mas as versões também variam.

 O dilúvio nórdico aconteceu devido o assassinato de Ymir pelas mãos dos filhos de Borr: Odin, Vili e Ve (Óðinn, Vili e ). O sangue jorrado do colossal primeiro ser inundou a região primordial do Ginnungagap, matando todos os gigantes (Hrimþursar), exceto Bergelmir e sua esposa. Bergelmir, era filho de Thrudgelmir (Þrúðgelmir) e neto de Ymir. O Ginnungagap era um local cheio de gelo grosso e espesso, mas com água derretida também, o gelo duro era como solo firme, os seres primordiais viviam neste local. Não há detalhes de como Bergelmir conseguiu se salvar, se ele teve ajuda de algum dos três deuses criadores, ou se foi o pai dele que o alertou, mas Bergelmir é chamado de gigante sábio (inn fróði jötunn) o que evidência que ele era de natureza benigna e diferente dos demais familiares.

 O transporte usado por Bergelmir e sua esposa para sobreviverem também é incerto, pois a palavra para descreve-lo é "lúðr" que pode significar uma "trombeta" ou "caixa [de madeira]" usada em moinho.

 A trombeta de Heimdall (Heimdallr), a Gjallarhorn, possui conexões com a fonte da sabedoria de Mimir (Mímir) onde antes ficava o Ginnungagap. Thor (Þórr) bebeu parte do oceano que saia do enorme chifre de Utgard-Loki (Útgarðr-Loki). Então, o significado de "trombeta" que tem relação com o mar não é impossível aqui e assim o casal pode ter se equilibrado sobre o instrumento como se fosse um navio. Este instrumento escandinavo usado desde da idade do bronze é bem grande em relação ao tamanho de um homem (medem entre 1.5 a 2 metros), então leve na proporção de um gigante. 

Lúðr encontrado na Escânia, Suécia, datado entre 899-700 a.C., foto de internet.

 A caixa [de madeira] pode se referir aos utensílios dos antigos moinhos quando eram cheios de grãos moídos e, desse modo, foi usado como "barco" pelo gigante. A ideia de um caixão/esquife também deve ser mencionada, pois já foi encontrado um ataúde de madeira de carvalho na Dinamarca contendo o corpo da garota de Egtved de 3500 mil anos atrás. Na literatura nórdica as árvores eram vistas como guardiãs e protetoras, pois Lif e Leifthrasir (Líf e Leifþrasir) sobreviverão ao Ragnarök no Bosque do Tesouro de Mimir (Hoddmímis Holt), que é outra denominação da Yggdrasill; Örvar-Oddr usou um tipo de armadura feito de casca de árvore (næframaðr). Então, o significado de "caixa [de madeira]" também é muito possível, e o mais provável também diante do cenário. A caixa boiaria sobre as águas contendo alimento com o casal gigante. 

Ataúde feito de tronco de árvore da garota de Egtved, Dinamarca, datado de 3500 mil anos. Foto de internet.

 O moinho também é associado ao mar como no caso de Grótti, que era do rei Frodi (Fróði). Segundo se conta, as gigantas escravas Fenja e Menja afundaram o navio do rei Mysing (Mýsingr) moendo sal, devido ao peso. Quando a pedra do moinho afundou no mar causou um redemoinho gigante. 

Fenja e Menja em Grótti, arte de Carl Larsson e Gunnar Forssell de 1886.

Moinho nórdico do período de 1400 d.C., o transporte de Bergelmir em questão seria a caixa de madeira logo abaixo da pedra circular. Fonte da imagem: https://www.locallocalhistory.co.uk/brit-land/power/images/b-land-1400-norse-mill-s.jpg 

 Como foi dito acima, é difícil saber o significado correto, até porque este período é anterior a Terra, e não havia madeira, pedra ou metal, porque estes elementos foram fabricados do corpo de Ymir pelos deuses. Contudo, como a região do Ginnungagap é imensamente colossal e Ymir era enorme, é possível que levou algum tempo para as águas chegarem até onde Bergelmir vivia, o que daria tempo para ele fabricar o seu transporte e nesse caso os deuses já teriam criado a Terra do corpo do gigante primordial e o solo brotado vegetais. Isso parece ser o caso aqui, porque os deuses criam coisas com seu poder e vontade quase que instantaneamente. A Völuspá parece corroborar esta ideia, pois o trio criador elevou Midgard (a carne de Ymir) do mar (o sangue de Ymir) e na sequência, então, os raios solares fizeram as plantas brotaram.

 Porém, este não é o único dilúvio nas narrativas nórdicas, pois há menção a mais dois: o dilúvio causado por Jormungand (Jörmungandr) quando ele combaterá Thor, e outro quando tentaram profanar o túmulo de Balder.

 Na Völuspá e na Edda de Snorri é comentado que no Ragnarök a serpente se levantará do oceano espalhando as ondas e cuspindo veneno para todo lado. Assim que o monstro encontrar Thor, eles combaterão, e o deus do trovão vencerá o inimigo antes de cair, então, os homens deixarão seus lares e logo depois a Terra afunda no mar. É um outro dilúvio universal que está por vir no final dos tempos. Isso porque na religião nórdica o universo é cíclico: nasce, se mantém por um tempo, morre, renasce e assim vai.

 Saxo Grammaticus mencionou um episódio diferente sobre a morte de Balder, o filho de Odin. O semideus (nesta versão) morreu depois de enfrentar Hod (Höðr), e foi sepultado. Este túmulo era muito famoso, e os homens de um certo Harald decidiu abri-la em busca de tesouros. Mas, pararam de terror, pois de repente o cume da sepultura se partiu e ressoou poderosamente e uma torrente de água despencou como um dilúvio, enchendo tudo na região instantaneamente. Para salvar suas vidas, os homens fugiram do local. Saxo pareceu não acreditar na narrativa pagã que ele registrou e a descreveu com sua visão cristã, acreditando que era ilusão fantasmagórica conjurada por mágica, mas que não era real. É claro que a enchente aqui é de menor proporção em relação aos outros exemplos, mas não deixa de ser menos importante ou curioso. Este episódio lembra a narrativa de Snorri onde ele comentou que todos os seres choraram por Balder exceto Loki disfarçado. Devo lembrar que esses exemplos de dilúvios também podem ser um eco longínquo de geleiras derretendo que encheram regiões do polo Norte no passado (da última era glacial?) que ficou registrado na memória dos nativos de lá daquele tempo e passados oralmente de geração para geração.

 É notável que nos três dilúvios nórdicos mencionados esta relacionado a morte de divindades: Ymir antes da criação da Terra, Balder no passado já na Terra, e Jormungandr contra Thor no fim dos tempos que ocorrerá segundo as Eddas.


FONTES:

An Icelandic-English Dictionary, Richard Cleasby & M. A. Gudbrand Vigfusson

Saxo Grammaticus Gesta Danorum: The History of the Danes vol. 1, trad. Peter Fisher

Scandinavian Mythology, Hilda R. E. Davidson

The Elder or Poetic Edda Commonly Known as Sæmund's Edda, Olive Bray

The Poetic Edda, Carolyne Larrington

The Prose Edda, Jesse L. Byock

SITES CONSULTADOS:

https://en.natmus.dk/historical-knowledge/denmark/prehistoric-period-until-1050-ad/the-bronze-age/the-egtved-girl/the-egtved-girls-grave/

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://www.locallocalhistory.co.uk/brit-land/power/page01.htm

https://septisphere.wordpress.com/2019/01/13/pre-industrial-machines-norse-mill/

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