É amplamente conhecido que o trio criador: Odin, Vili e Ve (Óðinn, Vili e Vé) criaram o primeiro casal humano. Fotos de Internet.
O trio criador deu várias dádivas ao casal humano, mas esse post irá focar apenas nas dádivas de Odin. As outras dádivas dos outros deuses ficará para posts vindouros.
Quando o trio criador recolheu os troncos de madeiras a beira mar, Odin deu o fôlego e/ou espírito e a vida para a dupla mortal recém criada (na Völuspá: önd gaf Óðinn, no Gylfaginning: Gaf inn fyrsti önd ok líf). A palavra nórdica "ϙnd/önd" (também "anda") significa tanto "fôlego" quanto "espírito". Tanto é que as traduções do inglês da Völuspá usam as duas possibilidades (explicarei logo a seguir). Essa palavra aparece em algumas runestones (pedras rúnicas) da era viking como "ont" (runas áss, nauðr e Týr) e "ant" (ár, nauðr e Týr). Lembrando que na era viking os escandinavos usavam as 16 runas do Jovem Futhark. Veja dois exemplos abaixo (embora haja outros):
Outra coisa precisa ser explicada: o som da runa Áss passou de "a" para "o" com a mudança do Antigo Futhark para o Jovem Futhark, o som da runa Jera passou de "j" para "a" e foi batizada de Ár ("ano"). A runa Dagaz (23 na fila rúnica) foi tirada do Jovem Futhark e o som de "d" passou a ser usado por "t" de Týr. A runa Ansuz (Áss) representava os deuses no Antigo Futhark e no Jovem Futhark a runa Ár passou a representá-los. Um antigo manuscrito associa a runa Ár com os deuses confirmando essa conexão. A runa Dagaz significa "dia" (luz) e Týr significa "deus", mas que indica originalmente "brilho ou luz celeste". Desse modo, as substituições eram mais ou menos equivalentes.
O ato de respirar (fôlego) é o que anima o corpo, portanto respirar está intimamente ligado ao espírito, pois é o espírito que anima o corpo. Por isso, essa dádiva de Odin é traduzida de ambas as formas. Sem fôlego não há vida, sem espírito não há vida.
O significado rúnico de "ϙnd/önd" é basicamente isso: sopro (Áss) divino (Týr) necessário (Nauðr). Ou seja: o sopro divino é restrito até certo tempo no corpo físico, quando se esvai a vida chega ao fim.
O ϙnd/önd é intimamente ligado à Óðinn no período pagão (evidenciado pela Völuspá), e após a cristianização da Escandinávia, a palavra passou a ser usada associada ao deus cristão (com o tempo, ϙnd/önd foi sendo substituído por sál ou "alma", talvez pra se afastar da sombra pagã). O interessante é a ideia do espírito estar associada a luz (via runa Týr, algo também visível em sál via Sól).
A outra dádiva de Odin ao casal humano foi a vida (líf na língua nórdica). O fluxo individual da vida é representado por Lϙgr, Íss e Fé (Laguz, Isa e Fehu). De certa forma, isso confirma a associação da criação humana a beira mar (via Lϙgr, o mar, e Íss que representa um indivíduo).
Com isso podemos entender que o fluxo individual da vida (líf) precisa do sopro divino necessário (ϙnd/önd) para se sustentar.
FONTES:
An Icelandic-English Dictionary, Richard Cleasby & M. A. Gudbrand Vigfusson
Dictionary of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall
Edda, Anthony Faulkes
Os Deuses Nórdicos são Imortais?, Marcio Alessandro Moreira, link: https://mega.nz/file/NfpilZiL#UBctotG_nrZdTbQ85TrmKQF0gAUMag0jsWdSrFux3Ks
The Poetic Edda, Carolyne Larrington
SITES CONSULTADOS:


Nenhum comentário:
Postar um comentário