quinta-feira, 20 de março de 2025

Lytir, o deus do vagão

 Lytir (Lýtir no nórdico arcaico) é uma divindade mencionada no Hauks Þáttr Hábrókar do Flateyjarbók, porém quase nada sobre ele é conhecido. A pequena descrição sobre ele sugere uma conexão com o Vanir, porém é apenas especulação. Fotos de Internet.

 Segundo a passagem no texto, o deus foi levado numa carruagem até o rei sueco para ser consultado, tal como numa procissão. A carruagem primeiro foi levada a um local sagrado onde o deus entrou, antes de seguir viagem ao reino. Esta descrição lembra muito a da Nerthus (mencionada em Germania por Tácito) e Freyr (mencionado no Ögmundar Þáttr Dytts).

 A Nerthus era levada num carro puxado por bois até o povo porque costumava intervir nos casos humanos, seu carro ficava numa ilha num bosque consagrado e coberto por um véu. Os sacerdotes pressentiam a presença da deusa antes de transportá-la numa procissão.  

 A estátua de Freyr era levada numa carruagem por uma jovem sacerdotisa para ser consultado na Suécia, sua imagem estava viva (Freyr væri lifandi) e falava com o povo. A passagem menciona roupas colocadas na estátua do deus. A ótica cristã do redator da saga descreve a cena como o demônio animando a estátua de Freyr (obviamente pervertendo o simbolismo pagão). Talvez, esse rito era pra celebrar a fertilidade da Terra simbolizado pela união do deus com a sacerdotisa.

 O nome "Lytir" pode estar associado a palavra nórdica antiga "hlutr" significando "sorte" (de cerimonial de tirar a sorte), "quinhão/porção" ou "adivinhar" e com "lýta" (e litr "colorido") que significa "mancha[do]". A velha palavra nórdica "liðr" significa "membro viril/pênis" e também pode estar relacionada. É mais comum Lytir ser identificado com Freyr por causa do seu possível significado de "sorte" algo que é relacionado com o Vanir. Mas, também já foi sugerido que Lytir poderia ser uma variação de Lodur (Lóðurr), um dos três deuses criadores, o que parece bastante improvável, embora o mesmo viajava pelo mundo com Odin (Óðinn) e Hœnir como um trio. Lodur é identificado com Loki em alguns manuscritos, e como o último não é uma divindade benfazeja isso fala contra esta identificação. Contudo, se o nome significar "pênis", isso corrobora com a identificação à Freyr cuja representação era um largo falo segundo o relato de Adam de Bremen (a imagem de Rällinge parece confirmar tal ideia), e ritos com teor sexual são mencionados também por Saxo no templo do deus na Suécia.

 Outra coisa fala em favor dessa identificação: segundo Saxo, as vitimas sacrificadas para Freyr eram negras (furvis hostiis), enquanto o significado de "manchado" pode indicar que a imagem do deus era pintada ou regada a sangue que quando seco ficava escurecida.

FONTES:

A Latin-English Dictionary, William Smith

A Germania, Maria Cecília Albernaz Lins Silva de Andrade

Adam de Bremen - History of the Archbishops of Hamburg-Bremen, Francis J. Tschan

An Icelandic-English Dictionary, Richard Cleasby & M. A. Gudbrand Vigfusson

Dictionary of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall

Gods and Myths of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson

Lokrur, Lóðurr and Late Evidence, Haukur Þorgeirsson

Saxo Grammaticus vol I & II - Gesta Danorum/The History of the Danes, Peter Fisher

Scandinavian Mythology, Hilda R. E. Davidson

SITES CONSULTADOS:

https://heimskringla.no/wiki/%C3%96gmundar_%C3%BE%C3%A1ttr_dytts_ok_Gunnars_helmings

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A origem da Yggdrasill

 Este post será dedicado a árvore cósmica Yggdrasill, o centro da cosmologia nórdica. Apesar de grande importância dentro do paganismo nórdico, sua origem é envolto em mistério. Foto de Internet.

 Porém, examinando as fontes primárias que temos (as duas Eddur), podemos enxergar nas entrelinhas.

Descrição de Yggdrasill do manuscrito AM 738 4to.

 A Völuspá conta que a árvore é eterna, enquanto o Grímnismál menciona animais abaixo e acima dela, o Snorri relatou que era nela que os deuses se reuniam com as Nornas (Nornir) para julgarem assuntos divinos diários.

 Mesmo ela sendo descrita como eterna, suas raízes denunciam que ela teve um início, uma origem. A Yggdrasill possui três raízes: uma na terra dos mortos, uma na terra dos gigantes e a outra na terra dos homens ou deuses (dependendo da fonte).

 A raiz da fonte da terra dos mortos, Niflheimr, era chamada Hvergelmir, onde o dragão Nidhogg roia a raiz.

 A raiz da fonte dos gigantes, Mimisbrunnr, era guardada por Mimir, aqui ficava escondida toda a sabedoria e entendimento.

 A outra raiz não é tão clara, pois numa fonte é dito ficar no mundo dos homens e outra diz estar na terra dos deuses. E outra parece indicar que ela ficava no sul (o que a coloca na direção de Muspelheimr).

 Pra entendermos como Yggdrasill pode ter surgido devemos recorrer as fontes. No início nada havia, apenas o mundo de fogo no sul (Muspelheimr) e o mundo de gelo no norte (Niflheimr), do encontro entre as duas regiões, no meio, ficava Ginnungagap. E Ginnungagap ficava ao leste, onde posteriormente seria a terra dos gigantes. Ymir surgiu do degelo do encontro do norte e sul, assim como Audhumbla que libertou Buri do gelo. Da união dos descendentes de Ymir e Buri surgiram os deuses. Os deuses mataram Ymir e jogaram seu corpo no Ginnungagap. O mundo é criado a partir daí, a terra é feito da carne de Ymir, as nuvens de seu cérebro, o mar de seu sangue, as montanhas dos ossos e as árvores de seus cabelos. Os homens foram criados de árvores a beira mar. Note aqui que a humanidade provavelmente tem origem dos ramos de Yggdrasill. A humanidade é como galhos da árvore cósmica. O poema Grímnismál menciona que Odin é o maior dos æsir e Yggdrasill das árvores, e Odin é o mais velho dos deuses e o mesmo deve se aplicar a Yggdrasill (como a mais antiga das árvores).

 Então, se as árvores vieram dos cabelos de Ymir, provavelmente esta foi a origem da árvore cósmica, pois como é dito na Völuspá não havia grama ou vegetação em lugar nenhum antes da criação, depois, no poema, é narrado que assim que a humanidade foi criada de árvores a beira mar as Nornes surgiram (estas poderosas entidades cuidavam de Yggdrasill e riscava os destinos em chapas de madeira). Desse modo, a humanidade pode ter sido criada dos ramos de Yggdrasill pelo trio criador. Isso explicaria a conexão da raça humana com as árvores e adoração das mesmas. Assim, todos os seres humanos estão ligados e possuem uma conexão, cada ser humano é uma "folha" de Yggdrasill. 

 Para maior entendimento leiam aqui: https://osegredodasrunas.blogspot.com/2023/04/o-parentesco-entre-os-seres-na-criacao.html


FONTES:

Edda, Anthony Faulkes

Gods and Myths of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson

Myth and Religion of the North: The Religion of Ancient Scandinavia, E. O. G. Turville-Petre

Myths and Symbols in Pagan Europe: Early Scandinavian and Celtic Religions, Hilda R. E. Davidson

Saxo Grammaticus Gesta Danorum: The History of the Danes Volume I, trad. Peter Fisher

Scandinavian Mythology, Hilda R. E. Davidson

The Poetic Edda, Carolyne Larrington 

SITES CONSULTADOS:

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Os deuses e o Halo divino

 Hoje é muito comum ver halos e/ou auréolas nas representações nas artes de divindades Greco-romanas, no Hinduísmo, no Budismo e até na arte sacra da igreja (Cristianismo). O halo divino e/ou as auréolas são símbolos do poder celestial e também do conhecimento superior, o que distingue o divino do comum e do ordinário. O halo na arte pode ser representado por um disco solar, raios tipo de um zigue zague (feixe de luz) ou auréola. Fotos de Internet.

 Hélio o deus sol, Apolo (que mais tarde é identificado com o primeiro), Krishna, Hathor, Sekhmet, Rá, Dionísio, Perseu, Nike, Ares, Afrodite, Jesus e outros aparecem com esse sinal na arte e nas descrições literárias que os distingue dos mortais. Contudo, alguns personagens importantes do mundo greco-romano, santos da bíblia e de outros povos também aparecem como halo na cabeça, mas a ideia é a mesma: os imperadores eram considerados e até adorados como divinos, e os santos foram venerados ao longo da história, ou seja, alguns homens distintos eram assim representados de acordo com suas crenças. Vale lembrar que nem sempre as divindades eram representados com halo.

 Este símbolo divino também aparece no extremo norte. Nas lâminas da era do bronze escandinavo (cerca de 1800-500 a.C.) podemos ver um ser ou dupla de homens e/ou divindades com halo na cabeça. 


A navalha/lâmina encontrada no sul da Jutlandia, Dinamarca, onde vemos dois homens ou deuses com halo na cabeça remando num barco. Fonte da imagem: https://en.natmus.dk/historical-knowledge/denmark/prehistoric-period-until-1050-ad/the-bronze-age/the-people-in-the-bronze-age-barrows/life-after-death/

Navalha de Voel, Gjern, Dinamarca, novamente um par de seres são representados com halo na cabeça.

Navalha da Região de Bremen, Alemanha, onde apenas um ser aparece e é representado com o halo na cabeça.

Petroglífo de Östfold, Noruega, onde um ser aparece representado com o disco solar (?) na cabeça.

 O deus adorado na idade do bronze escandinavo é muito parecido com o Thor da era viking. Ele é descrito usando machado e/ou martelo, e costumava consagrar casais e caçadas (ao julgar pelas representações dos petroglífos). Algumas vezes, o disco solar aparece sobre sua cabeça. Veja abaixo:

Petroglífo de Aspeberget, Tegneby, Tanum, Suécia, onde podemos ver um provável deus segurando um martelo (precursor do Thor?) tendo o sol sobre sua cabeça, talvez simbolizando o halo. O sol parece estar circulado por pássaros ou aves de algum tipo ou talvez represente os seus feixes de luz. A roda solar aparece representado em seu corpo também.

 Num dos famosos chifres de Gallehus, podemos ver seres que parecem representar deuses e/ou guerreiros divinos com estrelas em cima da cabeça, tal como o halo.

Parte do chifre dourado de Gallehus encontrado na Dinamarca e datado do 5º século na nossa era, onde deuses e/ou guerreiros são representados com estrelas acima da cabeça.

 Curiosamente o Thor é descrito de forma similar também: segundo se acredita era possível obter fogo (que também representa o raio celeste) da cabeça de Thor através de um ritual relatado entre os Lapões onde o deus era conhecido e venerado como "Horagalles". Esse rito parece ter conexão com o combate de Thor e Hrungnir. Os Æsir ("deuses") é outro exemplo: as runas que formam a palavra que os define são as runas *Ansuz ("deus", a runa A) e *Sowilo ("sol", a runa S), o que indica que são deuses solares, da luz. Os deuses ainda são descritos como seres brilhantes nas fontes.

 Em 1555, o sueco Olaus Magnus compilou a história de seu povo, lendas e folclore e ele descreveu o deus Thor com 12 estrelas ao redor da cabeça (Thor autem cum corona, & sceptro, ac XII stellis defignabatur), que talvez simboliza o raio solar divino, tal como o halo.

Imagem de Historia de Gentibus Septentrionalibus de Olaus Magnus. Thor está no meio com estrelas na cabeça, rodeado de Odin e Frigg.

 Existe outra versão dessa imagem também, porém similar:

Thor sentado no trono representado com um halo de estrelas, rodeado de Odin e Frigg. Fonte da imagem: https://myndir.uvic.ca/index.html.

 Muito mais tarde, os deuses Thor e Odin foram sendo relacionados a esse sinal divino no manuscrito Nks1867 4to de 1760 e SÁM 66 de 1765. Note que as estrelas são atadas as cabeças dos dois deuses por um tipo de fio.

1) Thor e seu martelo no manuscrito Nks 1867 4to representado com uma estrela atrás da cabeça e o crânio de Jormungandr. 2) Thor no manuscrito SÁM 66 com as mesmas características do primeiro. As duas representações lembram muito o petroglífo de Tanum.
 
Odin tendo uma estrela atrás da cabeça, ambos do manuscrito SÁM 66. Fonte das imagens: https://myndir.uvic.ca/index.html.

 A deusa Sól da idade do bronze nórdico aparece nos petroglífos também puxando seu carro. O aro celeste aparece nas mais variadas formas, tal como um disco, um disco rodeado por aves ou pessoas, uma roda solar, e outros. 

O carro da Sól de Bohuslän, Suécia, onde um animal puxa o astro seguido por aves ou seria seu fagulhas de seu brilho (?).

Outro exemplo do carro solar de Bohuslän, Suécia, onde o astro solar é puxado por um animal. 

 A deusa Sól é a divindade que rege a jornada do astro solar, mas Thor e Odin parecem representar seu poder, já que os dois deuses eram associados as estrelas (Odin é tido como o criador das estrelas junto com seus irmãos, Thor era conhecido por criar constelações). Freyr também era conectado ao sol.

 Então, podemos deduzir que tal ideia (do halo) era conhecido no norte desde a era do bronze e permaneceu nas sucessivas gerações através da oralidade. Vale lembrar que os deuses da idade do bronze era bastante similar aos da era viking, embora haja muito espaço de tempo entre eles, mas podem muito bem ser suas evoluções religiosas.

 Abaixo algumas representações de deuses com o disco solar, halo ou auréola de certas culturas antigas:

Egito: Rá sentado no trono com o disco solar e o uraeus (serpente), tumba de Nefertari, 13º século a.C.

Egito: Ra-Horakhty (Rá sincretizado com Hórus) com o disco solar e uraeus abençoando mulher com o raio solar.

Grécia: Vaso ateniense representando Hélio com halo na cabeça, 5º século a.C.

Ásia: Urna de Kanishka representando Indra, Buda e Brama com halo na cabeça, Sul da Ásia, datado de 127 da era comum.

Roma: Mosaico romano descrevendo o triunfo de Netuno com halo na cabeça, do 2º século.

Roma: Júpiter representado com halo na cabeça, mosaico romano do 3-4º século.

Pérsia: Mitra com o halo na cabeça, relevo sassânida do 4º século.

Alemanha Cristã: A natividade e transfiguração de Cristo, seus anjos e santos com halo na cabeça, cerca de 1025-50, Colônia, Alemanha.

Índia: Krishna e Rukmini, ambos com halo na cabeça, mural de 1840-50 de Sheesh Mahal.

Japão: Amaterasu emergindo da caverna com halo na cabeça, 1856. 

 Como podemos ver, o halo e/ou auréola é um símbolo antigo e quase universal, associado principalmente com divindades solares e do fogo, mas também a outros deuses com outras esferas de poder. O halo na cultura hindu está ligado ao chacra da coroa (o 7º) e a aura da alma.

FONTES: 

Dictionary Of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall

Edda, Anthony Faulkes

Gods And Myths Of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson

Historia de Gentibus Septentrionalibus, Olaus Magnus

Pagan Scandinavia, Hilda R. E. Davidson

Saxo Grammaticus Gesta Danorum: The History of the Danes Volume I, trad. Peter Fisher

Scandinavian Mythology, Hilda R. E. Davidson

Shadows of a Northern Past Rock Carvings of Bohuslän and Østfold, John Coles

The Chariot of the Sun and Other Rites and Symbols of the Northern Bronze Age, Peter Gelling e H. R. E. Davidson

The Poetic Edda, Carolyne Larrington

SITES:

https://www.arhantayoga.org/pt/chakra-da-coroa-a-energia-divina-do-chakra-sahasrara/

https://www.britannica.com/art/halo-art

https://www.cais-soas.com/CAIS/Religions/iranian/Zarathushtrian/halo_its_origin.htm

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7438322/mod_resource/content/0/%28Mnemosyne%20Supplements%20273%29%20Nicholas%20Horsfall%20-%20Virgil%2C%20Aeneid%203-Brill%20Academic%20Publishers%20%282006%29.pdf

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

https://heimskringla.no/wiki/Ynglinga_saga

sábado, 2 de março de 2024

Os professores da humanidade

 Três grandes professores (ou mestres) são mencionado nas fontes antigas da cosmovisão nórdica: Odin (Óðinn), Heimdall (Heimdallr) e Kvasir. Fotos de Internet.

 Odin é o grande senhor e professor dos deuses e homens, algo que ele mesmo menciona no poema Vafþrúðnismál ("fjölð ek of reynda regin/eu testei muito os deuses"). Ele saia pelo mundo para obter conhecimento e ensinando aos deuses e homens alguns de seus segredos. Ele havia ensinado o segredo das runas para os deuses e homens, ensinou a formação "hoste de javali" de combate aos guerreiros (svínfylking), deu conselhos para os homens nas sagas. Isso é algo compreensível, afinal ele é o deus do intelecto, do xamanismo, da sabedoria, da inteligência, da magia, da poesia, do ocultismo e da inspiração, tudo que envolve evolução e aprendizado.

Formação "tropa de javali" que teria sido ensinado aos homens por Odin. Foto de internet.

 Heimdall é outro deus professor, ele desceu a Midgard (Miðgar­ðr) como Rígr ("Rei") e criou as classes sociais, depois ensinou runas ao seu filho escolhido (Jarl) para governar. A sabedoria de Heimdall é também atestada no poema Þrymlur e Þrymskviða. Obviamente a sabedoria de Heimdall está ligada ao seu poder de poder ver e ouvir a grandes distâncias. 

 Kvasir é outra semi divindade (na Edda em Prosa ele é chamado de "mann" ou "homem", mas pode ser uma evemerização aqui), porém menos conhecida que os outros dois, mas também de importância: ele foi criado a partir da saliva de todos os deuses Æsir e Vanir, quando ambas as tribos fizeram trégua depois da guerra. Há outra versão que menciona que ele seria de origem Vanir, mas como seu nome significa algo como "fruta esmagada (pra fazer bebida)" e na antiguidade saliva era usada para fermentação de beberagem, então, a primeira origem (nascido da saliva dos deuses) é a mais plausível. Uma saga menciona que Odin cuspiu numa tigela para fermentar cerveja para uma mulher, o que deve fazer parte de algum tipo de ritual com ecos do mito de Kvasir. Por causa de seu nascimento extraordinário, Kvasir podia responder qualquer coisa. O sábio deus saiu pelo mundo ensinando sabedoria até que ele foi morto por anões. A ligação de Odin e Kvasir ficará para outro post.

 

FONTES: 

Dictionary Of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall

Edda, Anthony Faulkes

Gods And Myths Of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson

Saxo Grammaticus Gesta Danorum: The History of the Danes Volume I, trad. Peter Fisher

Scandinavian Mythology, Hilda R. E. Davidson

The Poetic Edda, Carolyne Larrington

SITES:

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

https://heimskringla.no/wiki/H%C3%A1lfs_saga_ok_H%C3%A1lfsrekka

https://heimskringla.no/wiki/%C3%9Erymlur_I-III

sábado, 3 de fevereiro de 2024

As origens de Sól e Máni, Bil e Hjúki, e Rind

 Muito pouco sobre as deusas nórdicas chegaram até nós, exceto Freyja, outras deusas possuem alguns registros pormenores como Frigg, Sif, Jord (Jörð). No século 13 d.C., os relatos mitológicos nórdicos foram coletados num período dominado pela igreja (e por pessoas cristãs) que censurava cultos de teor feminino. Por isso, provavelmente, pouca coisa sobre elas foi registrado. O culto Æsir possuía características masculinas e o culto Vanir características femininas, mas claro que isso não era padrão.

 As divindades que viriam a reger o sol e a lua (Sól e Máni), eram extremamente belos e o pai deles que era chamado Mundilfári os nomeou com o mesmo nome do astro solar e lunar que foram criados pelo trio criador (ÓðinnVili e ) das fagulhas brilhantes de Muspelheim (Múspellsheimr). Os deuses acharam isso uma afronta e por castigo eles os levaram para céu para puxar o carro solar e lunar, tornando-se assim a deusa do sol e o deus da lua. Os dois foram colocados ali para guiar os astros. Os deuses ficaram irritados por Mundilfári comparar seus filhos com o poder divino criador. É comum em todas as religiões antigas os deuses se vingarem de pessoas que os ofendiam, embora nem sempre.

O carro solar de Trundholm encontrado na Dinamarca, datado de 1500 a 1300 a.C.. A adoração ao sol é bastante representada nos petroglifos da Escandinávia.

 Bil era uma menina e Hjúki um menino que viviam coletando água da fonte Byrgir com o balde Sæg na vara Simul, eles eram filhos de Vidfin (Viðfinnr). Certo dia, quando faziam isso, os dois foram levados por Máni, o deus da Lua, irmão de Sól. Bil e Hjúki parecem ser a personificação das manchas lunares ou, talvez, das mudanças de fases.

 Rinda (Rindr) é mencionada como uma deusa (ásynja) por Snorri, mas em Saxo ela é uma mulher mortal da casa real dos Rutenios (Rússia) e mãe de Boe (Váli). Na versão Dinamarquesa, ela é descrita com uma personalidade forte. Vale lembrar que a obra de Saxo é bastante evemerizada (teoria de que os deuses eram mortais divinizados). Rinda parece ser a personificação da terra congelada. Conta-se que Odin teve que encanta-la para conseguir gerar o filho que vingaria Balder (Baldr).


FONTES:

A Genealogia dos Deuses Nórdicos, Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði)

Dictionary Of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall

Edda, Anthony Faulkes

Gods And Myths Of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson

Saxo Grammaticus Gesta Danorum: The History of the Danes Volume I, trad. Peter Fisher

Scandinavian Mythology, Hilda R. E. Davidson

The Poetic Edda, Carolyne Larrington

SITES CONSULTADOS:

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

http://heimskringla.no/wiki/Ynglinga_saga

sábado, 6 de janeiro de 2024

Se Odin é o Pai de Tudo, então, quem é a Mãe de Tudo?

 É bem sabido que Odin (Óðinn) é o Pai de Tudo/Todos e por isso mesmo chamado de "Alföðr" (de allr "tudo/todos" + föðr "pai" do nórdico arcaico). Na sua Edda em Prosa, Snorri afirmou isso se apoiando no poema Grímnismál, onde o próprio deus revelava seus muitos epítetos. Odin era assim chamado por ser o pai dos deuses e homens, uma posição compartilhada pelo cabeça de vários panteões como Zeus, Júpiter, Dyaus e outros.

Jord e Thor, arte de Thorskegga Thorn.

 Odin é pai de Thor (Þórr), Baldr, Tyr (Týr), Bragi, Heimdallr, Hod (Höðr), Vidar (Víðarr), Vali (Váli), Ullr, Hermod (Hermóðr), Skjold (Skjöldr), Sigi, Meili, Nepr, Hildólfr, Vegdeg, Ítreksjóð, Sæmingr, Froger, Jord (Jörð), e outros. Para melhor compreensão leia os posts anteriores com o marcador "origens".

 Depois dessa pequena introdução, vamos agora pra ver quem é a Mãe de Tudo/Todos que no nórdico arcaico seria Almæðr (de allr "tudo/todos" + mæðr "mãe"). A deusa candidata a essa vaga é: Jord, a Mãe-Terra. Jord possuía muitos nomes associados a terra (e alguns deles relacionados a outras divindades): Nerthus, Sif, Fjörgyn e Fjörgynn, Hlóðyn, Fold, Land, Aur, Grund, Vangr, Sandr, Hlíð, Völlr, Fjöll, etc (essas denominações são mencionadas no Skáldskaparmál e Alvíssmál).

 Como Jord/Fjorgyn/Hlodyn (Fjörgyn/Hlóðyn) ela gerou Thor e provavelmente Meili e Ullr com Odin; como Sif ela gerou Thrud (Þrúðr) com Thor; como Fjörgynn (no aspecto masculino/feminino) ela gerou Frigg e provavelmente Fulla com Tyr; como Nerthus ela gerou Freyr e Freyja com Njord (Njörðr), como Aurboda (Aurboða) ela gerou Gerd (Gerðr) com Gymir/Hlér/Ægir. Leia os posts anteriores para maior entendimento.

 Desse modo, com nomes diferentes, ela gerou os maiores deuses do clã Æsir e Vanir por pais diferentes. Isso tem paralelos na religião védica e hindu: Prithvi e/ou Aditi é a mãe dos deuses, na religião greco-romana: Gaia/Geia é a mãe das divindades, e na religião celta: Danu é a mãe do panteão. E não para por ai, os epítetos de Jord citados acima apontam que ela é muito mais que deusa da Terra, ela é a personificação do elemento terra/solo em todo cosmo: Vangr aparece no nome da casa dos deuses Thor e Freyja (Þruðvangr e Fólkvangr respectivamente), Land é sinônimo de Heimr para Terra ou local de habitação sendo que Asgard (Ásgarðr) também é chamada de Ásaland e Godheimr (Vanaheimr também é conhecida como Vanaland, Jötunheimr como Risaland), Völlr aparece em IðavöllrNiðavellir, Fjöll aparece em Niðafjöll, e Hlíð em Hlíðskjálfr, que é o local onde Odin enxerga os mundos. Resumindo: Jord é a deusa que está em todos os mundos, por isso ela é a Mãe de Tudo (uma posição conquistada após a criação, embora apagado nos mitos). Enquanto Odin é a personificação do etéreo, do alma e/ou espírito (de óðr "alma" no nórdico arcaico), Jord é a personificação do material, do sólido e/ou físico. Existe uma menção que parece corroborar essa ideia: a habitação da humanidade, Midgard (Miðgarðr), segundo o poema Grímnismál, foi feita da sobrancelha (brám) de Ymir e o elemento Terra (Jörð) foi fabricado da carne do gigante morto pelos deuses. Isso parece indicar que a deusa está em muitos lugares (mundos) personificada como solo, terra.

 O prólogo da Edda em Prosa ainda afirmou que os homens pagãos contavam que descendiam de Jörð, a Terra (ok tölðu ætt sína til hennar), que ela alimentava todos as criaturas/animais e os recebia na morte, o que é digno de uma deusa da natureza, a Mãe de Tudo/Todos.

 No início, Jord e Odin era o par perfeito, a união da Terra e do Céu personificado, mas quando Thor nasceu, ele separou seus pais ficando entre eles, representando o Ar e/ou Atmosfera, o intervalo entre abobada celeste e o solo. Thor é o primogênito de Odin e Jord, segundo Snorri, e por isso ele é o mais poderoso e o mais forte dos deuses e homens, com isso ele derrotava todas as critaturas (Ok fyrir því má hann heita Alföðr, at hann er faðir allra goðanna ok manna ok alls þess, er af honum ok hans krafti var fullgert. Jörðin var dóttir hans ok kona hans. Af henni gerði hann inn fyrsta soninn, en þat er Ása-Þórr. Honum fylgði afl ok sterkleikr. Þar af sigrar hann öll kvikvendi). Quando Odin se separou de Jord, ele se uniu a Frigg, e Thor se uniu a Jord que assumiu o nome de Sif (para maiores detalhes leia o post sobre Sif).

 Vale lembrar que, as vezes, epítetos de uma divindade acaba se transformando noutra entidade distinta com o passar dos séculos, quando uma civilização começa a esquecer sua história, ainda mais quando um povo substitui uma religião por outra, como no caso do paganismo nórdico que foi substituído pelo cristianismo. Os mitos nórdicos foram coletados muito tempo depois da era pagã (pois havia se passado mais de 200 anos da conversão do paganismo para o cristianismo), desse modo, alguns deuses podem ter se fragmentado em vários outros por falta de conhecimento, afinal as práticas antigas estavam praticamente extintas (algumas coisas sobreviveram no folclore de forma confusa e contraditória). Ainda mais quando uma divindade possuía vários nomes em várias localidades.  


FONTES:

A Genealogia dos Deuses Nórdicos, Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði)

Dictionary Of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall

Edda, Anthony Faulkes

Gods And Myths Of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson

Saxo Grammaticus Gesta Danorum: The History of the Danes Volume I, trad. Peter Fisher

Scandinavian Mythology, Hilda R. E. Davidson

Teutonic Mythology, Jacob Grimm

The Poetic Edda, Carolyne Larrington

SITES CONSULTADOS:

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

http://heimskringla.no/wiki/Ynglinga_saga

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

As origens de Gerd

 A giganta Gerd (Gerðr), a esposa do Vanr Freyr, era filha de Gymir e Aurboda (Aurboða), ela era extremamente bela e brilhante. Seus pais são ditos serem gigantes da montanha (Hon var bergrisar ættar). Da união dela com Freyr, nasceu o filho Fjolne (Fjölnir) da dinastia Ynglingar, da casa real Sueca.

Skírnir e Gerd, arte de Harry George Theaker de 1920.

 Gerd vivia na casa de seu pai e inicialmente se recusou a se casar com Freyr, até que foi forçada pelo mensageiro dele, Skírnir, com magia rúnica. Então, depois de nove dias, ela se dirigiu a Barri (Cevada) e casou com o filho de Njord (Njörðr).

 Gerd parece ser uma personificação do solo fértil (depois do degelo do inverno), já que Freyr é o deus que comanda o brilho do sol e a fertilidade indicando o casamento sagrado entre o Céu e Terra. O nome de seu pai, Gymir, também é um dos nomes do gigante marinho Ægir. É difícil saber ao certo se ambos são o mesmo personagem, embora faria sentido: o Solo (Gerd) seria filha do Oceano (Ægir) e da Terra (Jord) tal como descrito na Völuspá onde o solo é erguido das águas pelo trio criador na criação (o mesmo acontecerá depois do Ragnarök). A primeira parte do nome da mãe de Gerd, "Aur-", também é um epiteto de Jord (Jörð) no Alvíssmál.

Þórr Kvað (Thor disse):

9."Segðu mér þat, Alvíss (Diga-me Alvíss),

- öll of rök fira (o destino de todos os seres)

vörumk, dvergr, at vitir (eu creio, anão, que tu conhece) -:

hvé sú Jörð heitir (como a Terra é chamada),

er liggr fyr alda sonum (que se estende abaixo),

heimi hverjum í (em todos os mundos)?"

 

Alvíss kvað (Alvíss disse):

10."Jörð heitir með mönnum (Jord é chamada pelos homens),

en með ásum Fold (e entre os æsir é Fold),

kalla Vega vanir (é chamada de Vega pelos Vanir),

Ígræn jötnar (Ígræn pelos gigantes),

alfar Gróandi (pelos elfos de Gróandi),

kalla Aur uppregin (e chamada de Aur pelos Uppregin)."

 Isso corroboraria com a ideia de que o Solo (Gerd) era filha do Oceano (Ægir) e da Terra (Jord). Devo lembrar que Aurboda também aparece ao lado de Menglöð (que pode ser Freyja embora incerto) no Fjölsvinnsmál na montanha Lyfjaberg. Novamente aqui Aurboda é associada a ideia de terra, montanha.


FONTES:

A Genealogia dos Deuses Nórdicos, Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði)

Dictionary Of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall

Edda, Anthony Faulkes

Gods And Myths Of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson

Saxo Grammaticus Gesta Danorum: The History of the Danes Volume I, trad. Peter Fisher

Scandinavian Mythology, Hilda R. E. Davidson

The Poetic Edda, Carolyne Larrington

SITES CONSULTADOS:

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

http://heimskringla.no/wiki/Ynglinga_saga

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

As origens de Vidar, Forseti e Bragi

 Esses três deuses: Vidar (Víðarr), Forseti e Bragi, estão entre os grandes deuses Æsir, eles fazem parte do tribunal divino. Existem alguns poucos topônimos (nome de lugar derivado do deus) que parece carregar o nome de Vidar e Forseti, embora são muito contestados.

Vidar e Vali, arte de Axel Kulle.

 Vidar é mencionado como um deus calado que espera pelo Ragnarök montado em seu cavalo, pronto para vingar o pai com seu sapato especial. Muito pouco se sabe sobre ele, exceto que ele era muito forte, e que ele ajudava os deuses em momentos de necessidade, provavelmente quando Thor estava fora matando Trolls. Vidar é filho de Odin (Óðinn) e da amigável giganta Grid (Gríðr). Grid era amiga de Thor (Þórr) e, em certa ocasião, ela ajudou Thor dando-lhe luvas de ferro, o cinto da força e um cajado mágico (Grid parece ser fonte destes itens preciosos de Thor, e isso parece comprovar que o deus não necessita deles para erguer o martelo já que ele os recebeu depois de seu malho, há uma contradição na citação de Snorri). Grid parece estar associada a mágica ou ritos xamânicos, pois o cajado era instrumento das Völur ("profetisas"). Grid parece habitar em Jotunheim (Jötunheimr), perto de Geirrod (Geirröðr).

 Forseti é descrito como sábio e apaziguador, e vivia trazendo a paz. Forseti era filho de Balder e de Nanna, portanto, neto de Odin. Praticamente nada sobre ele chegou até nós, exceto que ele vivia em Glitnir.

 Bragi é um caso ainda mais difícil porque praticamente nada sobre ele chegou até nós, exceto que ele era filho de Odin, esposo de Idunn (Iðunn), poeta dos deuses e que ele dava as boas vindas aos heróis do Valhall (Valhöll). Sua mãe não é mencionada nas fontes que temos. Muitos especulam que Bragi pode ser um herói divinizado, o que era comum segundo o que aparece na Vita Anskarii (heróis renomados do povo podiam ser eleito um deus se os deuses permitissem). É possível que originalmente ele seja Bragi Boddason ou Bragi o filho de Halfdan ou Bragi o filho de Högni endeusado pelo povo, mas também é incerto. Muitos acreditam que a mãe de Bragi seria Gunnlod (Gunnlöð), mas isso também é incerto, pelo motivo de Odin ter levado o mel da poesia dos gigantes e teria talvez engravidado a giganta (mas, isso não é citado nas fontes, é apenas especulação das pessoas).


FONTES:

A Genealogia dos Deuses Nórdicos, Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði)

Dictionary Of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall

Edda, Anthony Faulkes

Gods And Myths Of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson

Saxo Grammaticus Gesta Danorum: The History of the Danes Volume I, trad. Peter Fisher

Scandinavian Mythology, Hilda R. E. Davidson

The Poetic Edda, Carolyne Larrington

SITES CONSULTADOS:

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

http://heimskringla.no/wiki/Ynglinga_saga

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

As origens de Magni, Modi e Thrud

 Este post será dedicado especialmente aos poderosos filhos de Thor (Þórr): Magni, Modi (Móði) e Thrud (Þrúðr). Os três deuses são características personificadas de seu pai: Magni é a força, Modi, a fúria ou coragem e Thrud, o poder. Infelizmente pouco sobre eles chegou até nós, mas algumas coisas são mencionadas:

 Magni é filho de Thor e Járnsaxa (uma das nove mães de Heimdallr), ele é descrito como forte e poderoso desde pequeno, cujo vigor foi capaz de levantar a perna do gigante Hrungnir quando nenhum dos deuses foram capazes (isso será explicado noutro post). Magni tinha três dias de vida ou três anos (dependendo do manuscrito fonte), quando ele ergueu a perna de Hrungnir. Como recompensa pelo ato heroico, seu pai lhe presenteou com o veloz cavalo de Hrungnir, Gullfaxi, quase tão rápido quanto Sleipnir. Thor havia dito que seu filho seria poderoso. Seu nome significa "Força" e está associado as palavras do nórdico arcaico "mega" e "megin" (ambas "força"), as quais estão presentes no inglês como "may" e "main" (ambas "força") vindas do anglo-saxão magan, e a alemã "mögen" ("poder").

 Sobre Modi praticamente nada se sabe, apenas que ele era filho de Thor e que ele e seu irmão Magni irão retornar após o Ragnarök e que eles vão herdar o martelo Mjolnir (Mjöllnir). Como seu nome parece significar "Coragem/Fúria", então, é provável que sua mãe seja Járnsaxa também, pois ela é referida em kenningr (metáfora viking) associada a coragem na mente: Járnsöxu veðr ou "tempestade de Járnsaxa". Devo lembrar que é especulação minha, embora faça sentido. Se Járnsaxa é a agitação da mente que leva a coragem, então, ela tem algo em comum com Modi. Seu nome significa "Fúria" ou "Coragem" e está associado a palavra "móðr" ("fúria") do nórdico arcaico, o qual está presente no anglo-saxão "mod" e levando ao inglês como "mood" ("estado de espírito"), e com a alemã "muth" ("coragem").

 Thrud, é um caso diferente, ela é filha de Thor e Sif. Ela aparece entre as Valquírias (Valkyrjur) e era muito bela já que o gigante Hrungnir aparentemente a raptou num mito perdido, e isso explicaria o ódio de Thor por ele. Vale lembrar que os gigantes tentam roubar e/ou ganhar as deusas a todo custo por causa da extrema beleza delas (ex.: Sif, Freyja). Acredita-se, embora incerto, que a filha de Thor não nomeada no Alvíssmál seja Thrud. Seu nome significa "Poder" e está associada a palavra þrótt no nórdico arcaico ("poder), e relacionada com a palavra þroht ("trabalho") no anglo-saxão, mas sem correspondente no inglês moderno, e provavelmente ligada a palavra alemã drude ("feiticeira").

 Magni e Modi são citados como Æsir (deuses) no Vafþrúðnismál e Thrud aparece como uma Ásynja (deusa) no nafnaþulur.

Modi e Magni, arte de internet.


FONTES:

A Genealogia dos Deuses Nórdicos, Marcio Alessandro Moreira (Vitki Þórsgoði)

Dictionary Of Northern Mythology, Rudolf Simek trad. Angela Hall

Edda, Anthony Faulkes

Gods And Myths Of Northern Europe, Hilda R. E. Davidson

Scandinavian Mythology, Hilda R. E. Davidson

The Poetic Edda, Carolyne Larrington

SITES CONSULTADOS:

https://heimskringla.no/wiki/Edda_Snorra_Sturlusonar

https://heimskringla.no/wiki/Eddukv%C3%A6%C3%B0i

http://heimskringla.no/wiki/Ynglinga_saga

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